quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Oxalá, o Pai


Oxalá o maior dos Orixás
             No candomblé cultua-se os Orixás Funfun, que são os Orixás brancos, hierarquicamente são os mais elevados da cultura africana, pois estão diretamente ligados a criação. Vamos falar especificamente do Pai de todos, o grande Oxalá e suas duas manifestações muito importantes: Oxaguian e Oxalufan. No Sincretismo Oxalá está ligado a figura de Jesus Cristo
Oxalá é o grande Orixá, o grande criador, seu poder não tem lugar para se manifestar, todos os lugares são seus, ele está reinando acima de tudo e de todos, seu poder não tem limites.  Sua força de atuação está no Ar e no tempo. Ele traz a Fé, o equilíbrio e a doutrina em nossas vidas. As entidades que se apresentam como representantes de Oxalá, são na maioria das vezes milenares, pois após o desencarne um espirito percorre todas as linhas de forças (outros Orixás) para então poder atuar na linha branca, na linha de Oxalá. Quando a entidade chega nesse grau, é porque já conhece todos os pontos de forças da natureza e seus campos de atuação. 
Oxalá é um pai amoroso que ampara todos os seus filhos e não abandona nenhum deles. Ele nos ensina a lição da generosidade, a exercermos a solidariedade para com os outros, sem preconceitos e sem julgamentos.

Lenda- Oxalá Cria a Terra
No começo, o mundo era todo pantanoso e cheio d’água, um lugar inóspito, sem nenhuma serventia. 
Acima dele havia o Céu, onde viviam Olorum e todos os Orixás, que as vezes desciam para brincar nos pântanos insalubres. Desciam por teias de aranhas penduradas no vazio. Ainda não havia terra firme, nem o homem existia.
Um dia Olorum chamou à sua presença Oxalá, o grande Orixá, disse-lhe que queria criar terra firme lá embaixo e pediu-lhe que realizasse tal tarefa. Para a missão, deu-lhe uma concha marinha com terra, uma pomba e uma galinha com pés de cinco dedos.
Oxalá desceu ao pântano e depositou a terra da concha sobre a terra e pôs a pomba e a galinha e ambas começaram a ciscar. Foram assim espalhando a terra que viera da concha até que terra firme se formou por toda parte.
Oxalá voltou a Olorum e informou-lhe o sucedido e Olorum enviou um camaleão para inspecionar a obra de Oxalá e ele não pode andar sobre o solo que ainda não era firme. O camaleão voltou dizendo que a terra era ampla, mas ainda não suficiente seca.
Numa segunda viagem o camaleão trouxe a notícia de que a Terra era ampla e suficientemente sólida, podendo-se agora viver em sua superfície.
O lugar mais tarde foi chamado de Ifé, que quer dizer ampla morada.                
Depois Olorum mandou Oxalá de volta à Terra para plantar árvores e dar alimentos e riquezas ao homem. E veio a chuva para regar as árvores. Foi assim que tudo começou. Foi ali em Ifé, durante uma semana de quatro dias, que Oxalá criou o mundo e tudo o que existe nele.
Ele tem duas manifestações que devemos considerar:
Oxalufan – é o Oxalá mais velho o Opaxorô que o sustenta, um bastão de metal branco com a imagem de um pássaro, ele anda curvado por causa do tempo, os anos lhe pesam no corpo, ele é vagaroso como um idoso com dores. É Está diretamente ligado com a tranquilidade, paz, sabedoria e paciência.

Oxaguian – é o um Orixá jovem, forte e guerreiro. Em suas mãos estão o escudo, espada e mão de pilão. Ele é o Orixá responsável por encorajar seus filhos nas lutas diárias para que eles possam superá-las. É dinâmico e está sempre em movimento, ele rege a inovação. Oxaguian significa o Orixá comedor de inhame.

Lenda Oxaguian inventa o pilão
Oxalá, rei de Ejigbô, vivia em guerra. Gostava de guerrear e comer, apreciava uma mesa farta, comia caracóis, canjica, pombos brancos, mas gostava mais de inhame amassado.
Ele jamais se sentava para comer se faltasse inhame. Seus jantares estavam sempre atrasados, pois era muito demorado preparar o inhame. Oxalá estava assim sempre faminto, sempre castigando as cozinheiras, sempre chegando tarde para fazer a guerra. Então após consultar os babalaôs e fazer suas oferendas a Esú, trouxe uma nova invenção para a humanidade, o pilão.
Com o pilão ficou mais fácil preparar o inhame e Oxalá pôde se fartar e fazer todas as suas guerras. Tão famoso ficou o rei de Ejigbô por seu apetite pelo inhame que todos agora o chamam de Oxaguian – “Orixá comedor de inhame pilado”.
Refletindo sobre as lendas desse grande Orixá, fica claro que ele sempre trabalha com as energias de paz, humildade e serenidade, porém mostra que esses não são seus únicos atributos.
Ele é um mestre criador e com essa energia de criação, pode nos proporcionar mais criatividade para resolução de nossos problemas, nos fazendo enxergar soluções nas coisas mais simples de nossas vidas.
Mesmo ele sendo o grande representante da Paz, quando se faz necessário Oxalá também vai pra guerra, sob a sua manifestação de Oxaguian, diante da grande luz desse Orixá a batalha é resolvida rapidamente e a paz volta a reinar.
Quando estivermos em situações conflitantes em nossas vidas, podemos chamar a energia de Oxalá que com certeza nos trará o instrumento necessário naquele momento, que pode ser a paz, a criatividade ou a guerra, essa guerra no sentido bom, de reestabelecimento da paz.
A é o atributo mais apreciado por ele. A humildade é aquilo que mais exige de nós. A bondade é a melhor forma de nos apresentarmos diante dele. Para conhece-lo melhor devemos adquirir seus quatro atributos fundamentais: Pureza, Bondade, Humildade e Simplicidade.

v  Cores: Branco;
v  Saudação: Epa Bàbá! (Oxalá/Oxalufan); Exeuê, Babá! (Oxaguian)
v  Símbolos: Opaxorô (cajado com pássaro na extremidade) e o Pilão.
v  Oferendas: Canjica Branca, Uva verde, pêra, maçã verde, nozes, castanhas, amêndoas, Lírio branco, copo de leite e flores brancas no geral. Inhame pilado (Oxaguian)

Epa Bàba!
Exeuê, Babá!
Minhas mais humildes reverências!
Juliane Camargo 
(membra Templo Polimata Boituva) 

Referências
As Sete Linhas da Umbanda: A religião dos mistérios – Rubens Saraceni – São Paulo: Ed. Madras, 2017;
As Cartas dos Orixás – Celina Fiovarani – São Paulo: Ed. Pensamento, 2009;
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – São Paulo: Ed. Companhia das letras, 2001.
Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns na Bahia de todos os santos, no Brasil e na antiga costa dos escravos, na África – Pierre Verger – tradução: Carlos E.M Moura – São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 2012;
Umbanda Sagrada: Religião, Ciência, Magia e Mistérios – Rubens Saraceni - São Paulo: Ed. Madras, 2017;

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