segunda-feira, 28 de outubro de 2019

ॐ Satsaṅga à Śrī Viṣṇu, Aquele que reside no coração de todos os seres

Śrī Viṣṇu.

Trata-se de uma das três principais deidades masculinas do panteão hindu. Sob a ótica mais popular, é conhecido como o mantenedor, junto à Śrī Brahmā, o criador, e Śrī Śiva, o destruidor/renovador, forma a Trimurti – a trindade suprema do Sanātanadharma.

Dentro da escola filosófica vaiṣṇava, é a representação máxima de Deus, personificando a misericórdia e a bondade, a onipotência Divina que preserva o Universo e mantém a ordem dhármica do cosmos.

Śrī Bhagavān (“afortunado”, aquele que possui os seis atributos: domínio, poder, glória, esplendor, sabedoria e renúncia) é usualmente retratado com quatro braços, que representam sua onipresença, onipotência e onisciência nas quatro direções. Assim, seus membros anteriores representam sua ação no mundo material e os posteriores no mundo espiritual, e também representam os quatro Vedas (Ṛg, Sāma, Yajur e Atharva), a síntese do conhecimento absoluto universal.

Em cada uma de suas mãos, Śrī Viṣṇu segura os atributos-chefe de sua grandeza (a ordem dos atributos varia considerando diferentes arquétipos):

-       Padma (lótus): a flor, usualmente segurada por Śrī Viṣṇu em abhayamudrā (gesto manual que concede a bênção do destemor), representa a beleza Divina, a pureza, a liberação espiritual face ao enredamento material. O desabrochar do lótus à luz do Sol é uma analogia ao florescer da consciência no indivíduo, quando este desperta ao se aproximar de Deus.

-       Kaumodakī Gadā (maça): a “clava que confere a felicidade à Terra”, elimina o sofrimento da ignorância refletindo a opulência do Divino através de Seu intelecto cósmico primordial, fonte de toda a força física, mental e espiritual.

-       Pāñcajanya Śaṅkha (búzio): representa o poder criativo de Deus, a primeira manifestação articulada de linguagem do Universo, o som auṃ: a mais elevada frequência vibracional cósmica, condensada em uma só sílaba, que origina todas as formas universais.

-       Sudarśana Cakra (disco): “a roda da visão superior”, representa purificação e a espiritualização da mente dentro do processo de autorrealização da alma. É a destruição Divina do falso ego, da ilusão e da ignorância, que permite o desenvolvimento da visão espiritual, e que culmina com a visualização de Deus; objetifica a Suprema Invencibilidade do Dharma.

Sua pele em tom azulado é uma referência à Sua natureza infinita e que tudo permeia, em uma analogia à cor do céu.

Suas vestes amarelo-ouro representam os pertences de Sua consorte, Śrī Lakṣmī, a personificação da matéria. Também simbolizam os Vedas, como os raios de Sol dourados que irradiam felicidade, energia, êxtase, e que iluminam o intelecto.

Śrī Viṣṇu monta Śrī Garuḍa, a águia celestial, que exprime grande força, poder e misericórdia, e que supera os sentidos, usualmente representados pelas cobras. A simbologia da águia refere-se a jīva (alma inividual) carregando consigo paramātma (a Superalma), que é Śrī Vāsudeva (“Aquele que habita a todos”), presente em todas as criaturas.

Śrī Viṣṇu montado em  Śrī Garuḍa.

Enquanto Śrī Nārāyaṇa (“o homem primordial”, ou “Aquele que repousa sobre as águas”), repousa em Anantaśeṣa (a “serpente eterna”) sobre kāraṇārṇava, o oceano causal. Assim, por montar uma águia e apoiar-se sobre uma serpente, animais tidos como inimigos naturais, o Senhor Viṣṇu também é a imagem do equilíbrio perfeito, que triunfa ante a destruição, dissolvendo a inimizade.

Śrī Nārāyaṇa com Śrī Lakṣmi aos seus pés Śrī Brahmā
brotando de seu umbigo de lótus.

As potências da dualidade presente em nosso universo mantém-se equânimes sob a vontade de Śrī Viṣṇu. Todavia, de tempos em tempos este equilíbrio é desestabilizado e a escuridão obtém vantagem, para que determinados processos possam ser desencadeados.

Desta forma, enquanto mantenedor do Dharma, o Senhor Sthitikartṛ (“Aquele que estabiliza”desce à nossa dimensão para restabelecer a ordem como um avatāra (literalmente “aquele que desce”), uma encarnação divina, conforme mencionado no Bhagavad-Gītā, Capítulo 4, Versos 7:

यदा यदा हि धर्मस्य ग्लानिर्भवति भारत  
अभ्युत्थानमधर्मस्य तदात्मानं सृजाम्यहम् ॥७॥ 

yadā yadā hi dharmasya glāniḥ bhavati bhārata 
abhyutthānam adharmasya tadā ātmānam sṛjāmi aham  7 

“Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de Bharata, e uma ascensão predominante da irreligião – aí, então, Eu próprio faço Meu advento.”

Assim, a cada descida, Śrī Viṣṇu ensina uma lição diferente, relacionada com os motivos que levaram o Homem ao declínio naquele período, nas diferentes yugas (eras): satya (a era de ouro), treta (a era de fogo), dvāpara (a era da dúvida) e kali (a era do revés). Posteriormente teremos um texto falando sobre as yugas, especificamente.


De diversas listas dos daśāvatāras (dez principais encarnações de Śrī Viṣṇu), pode-se destacar abaixo a mais famosa:

1.    Matsya (satya yuga) – o peixe;
2.    Kūrma (satya yuga) – a tartaruga;
3.    Varāha (satya yuga) – o javali;
4.    Nṛsiṃha (satya yuga) – o homem-leão;
5.    Vāmana (tretā yuga) – o anão;
6.    Paraśurāma (tretā yuga) – o brāhmaṇa-kṣatriya;
7.    Rāma (tretā yuga) – o rei virtuoso;
8.    Kṛṣṇa (dvāpara yuga) – o Todo-Atraente, que dispensa apresentações;
9.    A. Balarāma (dvāpara yuga) – poderoso guerreiro, irmão de Śrī Kṛṣṇa
9. B. Buddha (kali yuga) – dependendo da tradição estudada, considera-se Gautama Śākyamuni como uma das encarnações do Senhor Viṣṇu;
10.Kalki (kali yuga) – uma encarnação futura, que descerá ao nosso plano ao final da presente era, marcando o retorno cíclico à satya yuga.

Uma das muitas listas dos daśāvatāras de Śrī Viṣṇu.

Assim, Śrī Viṣṇu é Aquele que tudo permeia. É a bondade, o fluxo da vida, o desenrolar da criação, a personificação da Suprema Līlā (passatempo, jogo) de criar e recriar, infinitamente.

Invocações mântricas 

श्री विष्णु
śrī viṣṇu
गायत्री
gāyatrī

ॐ नारायणाय विद्महे
वासुदेवाय धीमहि ।
तन्नो विष्णुः प्रचोदयात् ॥

oṃ nārāyaṇāya vidmahe
vāsudevāya dhīmahi 
tanno viṣṇuḥ pracodayāt 


“Contemplamos Aquele que repousa sobre as águas da criação,
Meditamos n’Aquele que é o Senhor de Todos os Seres.
Reverenciamo-nos ao Onipenetrante, para que nos ilumine com sabedoria.”

द्वादशनो महामन्त्र
dvādaśano mahāmantra (“grande mantra de doze sílabas”)

ॐ नमो भगवते वासुदेवाय


oṃ namo bhagavate vāsudevāya


Reverências ao Senhor Supremo, Senhor de todos os seres.

Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!

Todas as Glórias à Śrī Śrī Viṣṇu!

Minhas mais humildes, sinceras e profundas reverências,
                                                                                                                    
Yuri D. Wolf
सङ्कटमोचन

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Oxum a rainha das águas doces!

Ore yè yé o!!

    
Divindade dos rios e cachoeiras, exerce seu poder nas águas doces, recebeu esse nome por conta do Rio Oxum que corre na Nigéria, em Ijexá e Ijebu. Essa Yabá é muito bela, vaidosa e sedutora, foi a segunda esposa de Xangô onde com ele viveu um grande amor.
Na África Oxum é muito associada a prosperidade, muitas músicas e lendas demonstram seu amor pelo cobre, o metal mais precioso do país Iorubá nos tempos antigos. E assim como os rios abundantes ela traz essa energia prospera em nossas vidas quando cultuada.
Oxum também está associada ao amor, a mãe afetuosa que ampara seus filhos nos momentos de aflição. Em nós ela trabalha muito bem as emoções, seus fluidos aquáticos mexem facilmente com os nossos sentimentos, limpando tudo aquilo que nos sufoca e purificando-nos para novas etapas de nossas vidas. Quem se distancia da energia dessa Orixá costuma a ficar frio e sem sentimentos.
Oxum nos ensina que a lagrima é o remédio mais eficaz para purificar o nosso espirito de energias densas, é através das lagrimas que liberamos as emoções de magoas, angustias e raiva e só depois desse processo de cura que conseguimos retomar nossa caminhada
Ela representa a feminilidade, o empoderamento feminino, a autoestima, o amor próprio, ensina seus filhos a se amarem e se aceitarem como pessoas, a cuidarem bem de si em todos os aspectos: físico, emocional e espiritual. Oxum gosta das coisas limpas, bonitas, elegantes e equilibradas.
Rainha das águas doces, controla toda a parte criadora, sem a água doce não existiria vida no planeta. Ela também controla a fecundidade, as mulheres que desejam ter filhos dirigem-se a ela e sempre são atendidas com sua generosidade.
Ponto de Força das Cachoeiras
Mamãe Oxum rege o importante ponto de força das cachoeiras. Os pontos de forças são locais na natureza que possuem a mais pura vibração do Orixá, são considerados santuários naturais. Quando a pessoa adentra nas cachoeiras, pode sentir a vibração e força das águas, limpando e purificando, trazendo a energia do amor e da prosperidade. Os fluidos vão harmonizando todo o ser e quando a pessoa se despede da cachoeira geralmente sente-se renovado.

Itan: Oxum faz as mulheres estéreis em represálias aos homens
Quando todos os Orixás chegaram a terra, organizaram reuniões onde as mulheres não eram admitidas.
Oxum ficou aborrecida por ser posta de lado e não poder participar de todas as deliberações. Para se vingar, tornou as mulheres estéreis e impediu que as atividades desenvolvidas pelos deuses chegassem a resultados favoráveis.
Desesperados, os orixás dirigiram-se a Olodumaré e explicaram-lhe que as coisas iam mal sobre a terra, apesar das decisões que tomavam em suas assembléias. Olodumaré perguntou se Oxum participava das reuniões e os orixás responderam que não. Olodumaré explicou-lhes então que, sem a presença de Oxum e do seu poder sobre a fecundidade, nenhum de seus empreendimentos poderia dar certo.
De volta a terra, os Orixás convidaram Oxum para participar de seus trabalhos, o que ela acabou por aceitar depois de muito lhe rogarem. Em seguida, as mulheres tornaram-se fecundas e todos os projetos obtiveram felizes resultados. Oxum é chamada de Ìyálóòde (Iaodê) título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais importante entre todas as mulheres da cidade.

Refletindo sobre o Itan, podemos observar que Oxum traz a energia do empoderamento feminino, quando as mulheres foram excluídas das decisões importantes, ela demostra seu poder e sua importância perante a sociedade e conquista seu lugar com grande mérito. Fica claro também a importância das águas em nossas vidas, sem água doce não há vida, a vida não se mantém e não se cria sem as águas, precisamos preservar esse bem tão preciso e respeitar a grandeza desse elemento curador.

v  Cores: Amarelo Ouro
v  Saudação: Ore yè yé o!! (Significa – Chamamos a benevolência da mãe)
v  Dia da semana: Sábado
v  Elementos: Águas doces
v  Símbolos: Leque com espelho (Abebé)
v  Oferendas: Omolocum, Pera, melão, mamão, bananas, joias, flores amarelas.

Ore yè yé o mamãe Oxum!
Minhas mais humildes reverencias!
Juliane Camargo
Referências
As Sete Linhas da Umbanda: A religião dos mistérios – Rubens Saraceni – São Paulo: Ed. Madras, 2017;
As Cartas dos Orixás – Celina Fiovarani – São Paulo: Ed. Pensamento, 2009;
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – São Paulo: Ed. Companhia das letras, 2001.
Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns na Bahia de todos os santos, no Brasil e na antiga costa dos escravos, na África – Pierre Verger – tradução: Carlos E.M Moura – São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 2012;
Tarô dos Orixás – Ademir Barbosa Junior – Ed. Anubis, 2015;