segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Série: Povos Indígenas - Katukinas (Noke Kui)

aldeia Noke kui próximo a Br-376,
cruzeiro do Sul AC

   Katukina é um nome genérico dado a alguns grupos indígenas que habitavam uma área próxima uma da outra, mesmo que falando troncos linguísticos completamente diferentes, hoje em dia
encontramos essa alcunha para pelo menos três grupos diferentes, um no amazonas e dois no estado do Acre. Ambos grupos acreanos, de tronco linguístico Pano, não se auto denominam katukina, o grupo que reside próximo a cidade de Feijó se reconhece como Shanenawa e o outro como Noke Kuin “gente verdadeira” que vivem naTerra indígena do rio Gregorio e a TI do Campinas, próximo a Taruacá e Cruzeiro do Sul, fontes mais recentes estimam sua população total em mais de mil e duzentos indivíduos
  Os Noke Kuin se dividem em seis clãs, no qual é passado de pai para filho (antigamente e mesmo ainda hoje alguns defendem que originalmente a descendência era matrilinear) se denominam esses grupos como Varinawa (povo do Sol), Kamanawa (povo da onça), Satanawa (povo da lontra), Waninawa (povo da pupunha), Nainawa (povo do céu) e Numanawa (povo do juriti), tradicionalmente eles habitam núcleos familiares em torno de um casal mais velho com seus filhos e filhas solteiros e os seus filhos homens casados com suas esposas.
romeya Noke Kui e o Kambo
  É um grupo muito ligado a medicina do Kambo, aplicado até em bebes de meses de idade,
tradicionalmente o kambo é usado para potencializar o sistema imunológico curando doenças, afastando a tikishi, livremente traduzido como “preguiça” e a panema, falta de sorte na caça, em sua sociedade a própria aplicação do kambo reflete sua estrutura social, exemplificando, homens tomam kambo nos braços e peitoral, para fortalecer para as funções de caça e abrir roçado, o que exige muita força física, já nas mulheres o kambo é aplicado nas pernas, tendo em vista a função de fortalecer a as pernas e a região uterina contribuindo para o serviço de carregar macaxeira e os filhos, além do serviço doméstico.
   Tradicionalmente os curadores, ou shoitiya “aquele que tem a canção de cura”, fazem uso do rapé como forma de conexão e facilitador no intercâmbio com o mundo sobrenatural, em seções de cura e em iniciações, através do uso buscam estimular os sonhos com Rono Yuxin, o espirito da cobra grande, que ensina em sonho as canções de cura e como reconhecer os sintomas das doenças, também se utilizam do Huni ou ayahuasca, porém seu uso está mais associado aos rumeyas, os grandes xamãs.
   A respeito do contato com o branco, assim como a maioria das tribos acreanas, se deu no momento
povo Noke kui
da invasão dos caucheiros peruanos e dos seringueiros brasileiros, é um povo que tem muita troca cultural com outras etnias, em especial os Kulinas, Marubos, Yawanawa e Huni Kuin, a relação com os Yawanawa costuma ser de amor e ódio, porem ambas se uniram para a busca por demarcação de suas terras, em relação aos Kulinas muitas das canções de cura entoados ainda hoje pelos katunkinas são de autoria Kulina, hoje em função dos deslocamentos suas terras já se encontram muito distantes uma das outras, em compensação os Marubos em tempos recentes são a etnia mas próxima dos katukinas, sendo identificados até como um mesmo grupo que em um passado muito distante, mesmo antes dos brancos, haviam se separado, mas ainda mantem a divisão de clãs semelhante, a língua e alguns costumes muito parecidos.
   Há relativa interesse acadêmico nos Noke Kuin (talvez pela facilidade de acesso a suas terras) sendo encontrado alguns autores que produzem muito conhecimento a respeito dessa etnia como por exemplo Edilene Coffaci de Lima, doutora em antropologia pela Usp (e base para esse pequeno texto), como referência podemos destacar também o site https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Katukina_Pano .

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Águas de Oxalá


ÁGUAS DE OXALÁ – PURIFICAÇÃO E RENOVAÇÃO

Oxalá o é detentor do poder de criação masculino e um Orixá que predominantemente utiliza a cor branca. Ele é alheio a toda a violência, disputas, brigas e gosta de ordem, da limpeza e da pureza. Se manifesta de duas maneiras: OXAGUIÃ jovem guerreiro, e OXALUFÃ, velho apoiado num bastão de prata (APAXORÓ).
Em Janeiro é celebrado um dos mais longos e belos rituais do Candomblé, chamado de Águas de Oxalá, tem grande importância para as religiões de matrizes africanas, pois inicia as atividades religiosas e prepara essas atividades através da purificação. Nesse ritual é recordado o caminho mitológico de Oxalá como pai de todos os Orixás.
As águas de Oxalá é considerado um rito de passagem o fim e o começo, um novo ciclo e principalmente é tido como um rito de purificação e renovação.
O ritual em si consiste em: início na primeira quinta feira do ano, ao anoitecer, com a procissão de Oxalá até ao "Bàlotìn" – uma pequena cabana construída com folhas de palmeira. A partir deste momento, o silêncio é obrigatório, em memória ao sofrimento de Oxalá, durante a prisão. Na madrugada de sexta-feira, faz-se a procissão do transporte das águas, em quartinhas para o banho de Oxalá. No domingo, celebra-se o Pilão de Oxaguian. Os festejos se estendem aos dois domingos seguintes. Os ritos podem sofrer alterações de casas para casas.


Itan: Águas de Oxalá
Oxalá fez uma viagem para visitar seu filho Xangô, só que a viagem havia sido desaconselhada pelo Bàbáláwo.
A persistência de Oxalá e o desejo de ver o filho foram maiores. No decorrer da viagem, por três vezes, Exu dificultou o caminho, sujando-lhe as vestes brancas.
Quando chegou ao reino de Xangô, Oxalá foi confundido com um ladrão de cavalos e foi injustamente preso. Aí permaneceu por sete anos, período no qual o reino de Oyó passou por inúmeras e graves dificuldades.
Xangô foi consultar o Bàbáláwo e este lhe disse que, naquele reino, estava sendo cometida uma injustiça. Xangô teria que libertar um prisioneiro que estava ilegalmente preso há sete anos. Trouxeram Oxalá à presença de Xangô que logo o reconheceu e libertou. Xangô pediu perdão a Oxalá e ordenou que todas as pessoas do reino carregassem água para que pudessem banhar Oxalá e se penitenciar do erro cometido, Xangô, em sinal de humildade, carregou-o nas costas de volta até o Palácio de Oxaguian. Oxaguian, muito alegre com o regresso de Oxalá, ofereceu um grande banquete.
As águas representam a purificação e penitência quanto aos erros que nós cometemos, durante a vida. A água também é um elemento de limpeza espiritual e de bênçãos.
O branco das vestes de Oxalá simboliza a pureza, a simplicidade, a espiritualidade, características desse Orixá. Além disto, o branco é a junção de todas as cores e Oxalá é também sinal de união e paz.
Esse Itan nos deixa a mensagem de iniciarmos o ano na energia de Oxalá, nos purificando com as águas, deixando para trás tudo aquilo que se passou e que não agrega valor em nossas vidas. E iniciar o ano vestindo-nos de paz, união, humildade, que saibamos viver a pureza, preservando a vida, e o respeito ao próximo, para que assim possamos nos manter em paz durante todo esse novo ciclo.
v  Dia: Sexta-feira
v  Cor: Branco
v  Simbolo: Opáxoró (cajado com pássaro na extremidade) e o Pilão (Oxaguian).
v  Elementos: Atmosfera e Céu
v  Domínios: Poder procriador masculino, Criação.
v  Saudação: Epa Bàbá
v  Oferendas: Canjica Branca, Uva verde, pêra, maçã verde, , Lírio branco, copo de leite e flores brancas no geral. Inhame pilado (Oxaguian)

Epa Bàba!
Minhas mais humildes reverências!
Juliane Camargo 01/2020.

Referências
Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns na Bahia de todos os santos, no Brasil e na antiga costa dos escravos, na África – Pierre Verger – tradução: Carlos E.M Moura – São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 2012;