sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Sagrado Feminino e a cura pelos Elementos

 

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   Das muitas práticas ao qual podemos utilizar dentro da conexão com nosso universo feminino, venho aqui trazer os Elementos (terra, água, fogo e ar) que podem ser de grande valia para conseguirmos compreender qual temos numa intensidade e qual nos falta já que precisamos sempre estar em equilíbrio para que tenhamos mais harmonia em nossos dias e o que tiver em desarmonia balanceá-la. Aqui venho trazer os elementos de um prisma simples, porém que são fundamentais para nosso exercício de auto-observação e mudanças em nosso dia a dia: 

terra = força e firmeza
     Terra nossa conexão com Pachamama, nosso útero e os três últimos chackras que são voltados para energia telúrica, a terra é um símbolo de firmeza, raízes onde podemos nos encontrar através de nossa ancestralidade, do aconchego, nutrição, força no sentido equilibrado. Logo aqui vamos parar e refletir sobre nossos aspectos de como estamos nos cuidando, nossa criatividade, reflexão do que estamos fazendo, ações, como lidamos com desafios, estar em harmonia ou desarmonia. Proponho que coloque os pés na terra e sinta a vibração poderosa de nossa mãe Gaia 

água = sentimento e fluidez
  Água Aqui nosso corpo é constituído em sua maioria de água, a água reflete a intuição, o fluir da vida e dos ciclos já que são totalmente inconstantes, também remete ao emocional, aqui fica a reflexão de como estamos lidando com nossas emoções e como elas estão aparecendo no nosso dia a dia, é claro sem esquecer de nossa ciclicidade dentro de nossa lua interna e se já estiver na menopausa da lua externa, como lidamos com situações que nos agrada e como lidamos com o que desagrada, ficamos pilhadas ou como as águas deixamos passar, fluir, sem apegar-se. Reflita como  estão suas águas internas, no banho sinta a fluência da água caindo sobre seu corpo 

fogo = ação e renovação
    Fogo elemento que nos remete a transmutação, sexualidade, impulsão, conquista, magia, tanto é considerado destruidor, mas não podemos esquecer da purificação de energias, de curas através de queimar o que não serve mais e nos trazer o desconhecido, o novo, ou mesmo o animal mitológico a Fênix, que renasce das cinzas com muito vigor e transmutando o velho para que o novo chegue com outra perspectiva e visão de mundo. Aqui sugiro que queime em uma fogueira sagrada o que não te serve mais, observando como esse elemento dentro de si tem o poder de regenerar, desde sua sexualidade até mesmo suas lutas internas e externas para conseguir vencer seus desafios diários e interiores, como está o fogo em sua vida? suas vitórias, ações dentro e fora de si, ímpeto de conquista? Numa fogueira ou em uma vela observe as chamas, o poder e a sincronicidade do fogo, imaginando essa transmutação nas dificuldades que te limitam. 


Ar = aspecto mental, sutileza

   Ar Elemento sutil, símbolo de sabedoria, liberdade, comunicação, beleza, podemos refletir em sua importância desde nossa respiração, até a conexão com a sutileza de nosso ser. Vale observar se estamos ainda muito apegados a nosso eu mais denso ou se já conseguimos nos conectar com a grandeza da espiritualidade, se nos prendemos a pequenas coisas ou conseguimos liberdade para voar e ver situações de uma perspectiva mais sabia, ou melhor como se fossemos pássaros, e mais ainda se compararmos com pássaros, somos livres ou estamos engaiolados em relacionamentos, dificuldades, opiniões alheias, vale refletir para observar e tomar suas próprias conclusões dentro de seu eu infinito. Observe um pássaro voando e imagine-se voando, como seria essa liberdade de bater as asas e poder ir onde deseja?

   

    Dentro dos Elementos, trago de uma maneira bem simples seus aspectos para que possamos refletir em qual deles estamos apegadas ou distantes, pois todos devem estar em harmonia nos auxiliando para termos a conexão certa de cada Elemento, em cada situação onde poderemos utiliza-los com sabedoria ou dosá-los, ficando a critério de cada uma se conectar com os elementos de uma forma mais fluída que sempre será a sua, em busca de um feminino cada vez mais consciente e sadio, já chegou a conclusão qual é o elemento que está faltando em ti ou o que sobressai de um forma harmoniosa ? reflita e sempre observe! 


* Texto escrito por: Andreza Freitas, instrutora do sagrado feminino e facilitadora dos Yonne Eggs, além de ser mãe, esposa, filha e comandante feminina do Templo Polimata Boituva.


Convidamos a todas a se reconhecerem nos Elementos
e a se reconectarem junto a Sagrada Medicina neste tão aguardado ritual de fim de ano do Sagrado Feminino Polimata.



segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Quem tem medo de Exu ?

Imagem representativade Orixa Exu
Oyo, Nigeria, 1920.
  Neste mês de novembro, com muita alegria, teremos em nosso templo de Boituva nossa gira de esquerda aberta, com ayahuasca, ritual na linha de estudos das tradições afro-brasileiras, este ritual está pautado na louvação e manutenção da energia de Exu e sua contra-parte feminina reverenciada como Pombogira dentro de nossa Casa, seja ela entendida como nosso corpo/mente/alma, ou nosso querido Templo Polimata de Boituva. 

   Muito podemos dizer de Exu, assim como muito são seus nomes, seja ele reverenciado como Orixá Exu, a ponte entre o mundo humano/físico/Ayé e o divino/espirtual/órùn (Oníbodè aquele que está na passagem dos dois mundos), o primeiro a ser reverenciado, aquele que é lembrado a todo instante, o primeiro a ser louvado ao acordar (Ajíbíkèé), o senhor e propagador da riqueza e prosperidade (Alájé) aquele que detém a magia, o primeiro a ser louvado e o último a ser saudado em todo ritual, afinal ele quem traz o axé (Aláse ou alaxé), esse Orixá que permite que ocorra um ritual místico (seja ele qual religião for, por isso muitos nomes foram dado a essa energia ao longo da história), é também a função de Exu reequilibrar o Axé e dar caminho (ou impor as dificuldades para que a pessoa se movimente, o que gera um pouco de mal entendido a respeito de sua atuação que é única e exclusiva para o bem Maior), por essas características também é associado ao movimento, a subida e descida, o bem e o mal, o caminho do meio.  

Culto a Exu no Candomblé,
 Brasil 1978

      Podemos constatar essa característica com um conto que diz: “Um dia no interior de nosso País dois vizinhos que dividiam uma cerca volta e meia se estranhavam e disputavam a liderança sobre um pouco de terra, um dia passou um homem entre eles que usava parte do chapéu vermelho e parte do chapéu preto, cada qual virado para um lado, nessa um dos vizinhos disse: “Quem diabos é esse do chapéu vermelho? - no que o outro retruca: “Mas que cabra! É chapéu preto! (...) Nessa começam uma longa discussão que gera um enorme conflito entre eles, uma verdadeira guerra se instaura e depois de muito sofrimento aquele pequeno pedaço de terra disputada se torna uma terra independente.” Nesses versos entendemos uma atuação de Exu, sendo o País nosso corpo, nosso ser, e os dois vizinhos, que se degladeiam pelo pouco pedaço de terra, que somos nós, podem ser lidos como nossa luz e sombras, assim ao final de uma longa batalha, nós, o pequeno pedaço de terra, torna-se independente, agregando os dois lados, Exu exerce a fricção necessária, neste caso, para que possamos evoluir, exu não é mal, mas pode ser visto como tal se olhado com uma mente limitada que não reconhece as causas e efeitos, essa energia é justa e sim é caridosa! 

    Há muitos outros Itans (contos que são passados de geração em geração de forma oral para que se perpetue a cultura Iorubá) que contam mais sobre Exu, colocando-o como um comilão que devora tudo pelo fato dele ser sempre o primeiro a receber toda e qualquer oferenda, tendo em vista que o culto afro-brasileiro e muitos outros de origem africana estão muito associados a oferenda de alimento, algo precioso neste contexto de população, as divindades, o ato de darmos nosso melhor as divindades, oferecermos não só nosso melhor bem material, mas principalmente nossas melhores virtudes e ações. 

  Detentor de toda a sabedoria humana, com ele não há enganação só verdade e bondade, é nosso caminho ao reino de Oxalá, a nossa paz interior, esta importantíssima divindade do panteão Iorubá foi um dos primeiros seres a serem criados por Olodumaré para se encarregar da Criação, reconhecemos, também, sobre as alcunhas de Elégbára, o todo poderoso, Bara, o maravilhoso ou incomensurável, Àwúre, boa sorte,coisas boas, Òdàrà, o espetacular, Láàróyè, aquele que deve ser honrado, admirado. O culto desta divindade se expandiu para além das terras Iorubás na África e hoje esta muito presente nas religiões afro-americanas como Santeria cubana, A Umbanda brasileira, o Vodu Haitiano, no Candomblé brasileiro, Em Trinida e Tobago, República Dominicana, Venezuela e tantas outras nações que receberam os povos africanos.



   Por fim, Exu é alegria, é a ponte que necessitamos, o começo do caminho para alcançar os reinos celestiais mais e mais altos, aquele que está no início e no fim de nossa jornada, cultuado muito além das terras tupiniquins e presente nos 4 cantos da criação Laaróyè Èsù!  


Egba rà bó ago mojuba rà (Tenho fé e peço licença para louva-lo em minha casa*)

Egba Kose (Tenho fé, amém.*)

Egba rà bó ago mojuba rà (Tenho fé e peço licença para louva-lo em minha casa*)

Lè gbálè èsù loná (Seu poder exu, limpa o caminho*)


* tradução aproximada não literal

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Quem é Śrī Viṣṇu ?

                                           ॐ 

Neste mês de novembro, a Ordem Polimata e o Templo Polimata Boituva (08/11) celebra a manifestação divina sob a forma d’Aquele que tudo permeia: Śrī Viṣṇu.

Śrī Viṣṇu.

Trata-se de uma das três principais deidades masculinas do panteão hindu. Sob a ótica mais popular, é conhecido como o mantenedor, junto à Śrī Brahmā, o criador, e Śrī Śiva, o destruidor/renovador, forma a Trimurti – a Trindade Suprema do Sanātanadharma.

Dentro da escola filosófica vaiṣṇava, ele é a representação máxima de Deus, personificando a misericórdia e a bondade, a onipotência divina que preserva o Universo e mantém a ordem dhármica do cosmos.

Śrī Bhagavan (“venerável, afortunado”, aquele que possui os seis atributos: domínio, poder, glória, esplendor, sabedoria e renúncia) é usualmente retratado com quatro braços, que representam sua onipresença, onipotência e onisciência nas quatro direções. Assim, seus membros anteriores representam sua ação no mundo material e os posteriores no mundo espiritual, e também representam os quatro Vedas (Ṛg, Sāma, Yajur e Atharva), a síntese do conhecimento absoluto universal.

Em cada uma de suas mãos, Śrī Viṣṇu segura os atributos-chefe de sua grandeza (a ordem dos atributos varia considerando diferentes arquétipos):

-       Padma (lótus): a flor, usualmente segurada por Śrī Viṣṇu em abhayamudrā (gesto manual que concede a bênção do destemor), representa a beleza Divina, a pureza, a liberação espiritual face ao enredamento material. O desabrochar do lótus à luz do Sol é uma analogia ao florescer da consciência no indivíduo, quando este desperta ao se aproximar de Deus.

-       Kaumodakī Gadā (maça): a “clava que confere a felicidade à Terra”, elimina o sofrimento da ignorância refletindo a opulência do Divino através de Seu intelecto cósmico primordial, fonte de toda a força física, mental e espiritual.

-       Pāñcajanya Śaṅkha (búzio): representa o poder criativo de Deus, a primeira manifestação articulada de linguagem do Universo, o som auṃ: a mais elevada frequência vibracional cósmica, condensada em uma só sílaba, que origina todas as formas universais.

-       Sudarśana Cakra (disco): “a roda da visão superior”, representa purificação e a espiritualização da mente dentro do processo de autorrealização da alma. É a destruição Divina do falso ego, da ilusão e da ignorância, que permite o desenvolvimento da visão espiritual, e que culmina com a visualização de Deus; objetifica a Suprema Invencibilidade do Dharma.

Sua pele em tom azulado é uma referência à Sua natureza infinita e que tudo permeia, em uma analogia à cor do céu.

Suas vestes amarelo-ouro representam os pertences de sua consorte, Śrī Lakṣmī, a personificação da realidade material. Também simbolizam os Vedas, como os raios de Sol dourados que irradiam felicidade, energia, êxtase, e que iluminam o intelecto.

Śrī Viṣṇu monta Śrī Garuḍa, a águia celestial, que exprime grande força, poder e misericórdia, e que supera os impulsos dos sentidos, usualmente representados pelas cobras. A simbologia da águia refere-se a jīva (alma individual) carregando consigo paramātma (a Superalma), que é Śrī Vāsudeva (“Aquele que habita a todos”), presente em todas as criaturas.

Śrī Garuḍa.

Enquanto Śrī Nārāyaṇa (“o homem primordial”, ou “Aquele que repousa sobre as águas”), repousa em Anantaśeṣa (a “serpente eterna”) sobre kāraṇārṇava, o oceano causal. Assim, por montar uma águia e apoiar-se sobre uma serpente, animais tidos como inimigos naturais, o Senhor Viṣṇu também é a imagem do equilíbrio perfeito, que triunfa ante a destruição, dissolvendo a inimizade.

Śrī Nārāyaṇa.

As potências da dualidade presente em nosso universo mantém-se equânimes sob a vontade de Śrī Viṣṇu. Todavia, de tempos em tempos este equilíbrio é desestabilizado e a escuridão obtém vantagem, para que determinados processos possam ser desencadeados.

Desta forma, enquanto mantenedor do Dharma, o Senhor Sthitikartṛ (“Aquele que estabiliza”desce à nossa dimensão para restabelecer a ordem como um avatāra (literalmente “aquele que desce”), uma encarnação divina, conforme mencionado na Bhagavad-Gītā, Capítulo 4, Verso 7:

यदा यदा हि धर्मस्य ग्लानिर्भवति भारत  
अभ्युत्थानमधर्मस्य तदात्मानं सृजाम्यहम् ॥७॥ 

yadā yadā hi dharmasya glāniḥ bhavati bhārata 
abhyutthānam adharmasya tadā ātmānam sṛjāmi aham  7 

“Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de Bharata, e uma ascensão predominante da irreligião – aí, então, Eu próprio faço Meu advento.”

Assim, a cada descida, Śrī Viṣṇu ensina uma lição diferente, relacionada com os motivos que levaram o Homem ao declínio naquele período, nas diferentes yugas (eras): satya (a era de ouro), tretā (a era de fogo), dvāpara (a era da dúvida) e kali (a era do revés). Posteriormente teremos um texto falando sobre as yugas, especificamente.

De diversas listas dos daśāvatāras (dez principais encarnações de Śrī Viṣṇu), pode-se destacar abaixo a mais famosa:

1.    Matsya (satya yuga) – o peixe;
2.    Kūrma (satya yuga) – a tartaruga;
3.    Varāha (satya yuga) – o javali;
4.    Nṛsiṃha (satya yuga) – o homem-leão;
5.    Vāmana (tretā yuga) – o anão;
6.    Paraśurāma (tretā yuga) – o brāhmaṇa-kṣatriya;
7.    Rāma (tretā yuga) – o rei virtuoso;
8.    Kṛṣṇa (dvāpara yuga) – o Todo-Atraente, que dispensa apresentações;
9.    A. Balarāma (dvāpara yuga) – poderoso guerreiro, irmão de Śrī Kṛṣṇa
9. B. Buddha (kali yuga) – dependendo da tradição estudada, considera-se Gautama Śākyamuni como uma das encarnações do Senhor Viṣṇu;
10.Kalki (kali yuga) – uma encarnação futura, que descerá ao nosso plano ao final da presente era, marcando o retorno cíclico à Satya Yuga.

Os daśāvatāras de Śrī Viṣṇu.

Assim, Śrī Viṣṇu é Aquele que tudo permeia. É a bondade, o fluxo da vida, o desenrolar da criação, a personificação da Suprema Līlā (passatempo, jogo) de criar e recriar, infinitamente.

 Invocações mântricas 

गायत्री
gāyatrī

ॐ नारायणाय विद्महे
वासुदेवाय धीमहि ।
तन्नो विष्णुः प्रचोदयात् ॥

oṃ nārāyaṇāya vidmahe
vāsudevāya dhīmahi 
tanno viṣṇuḥ pracodayāt 


“Contemplamos Aquele que repousa sobre as águas da criação,
Meditamos n’Aquele que é o Senhor de Todos os Seres.
Reverenciamo-nos ao Onipenetrante, para que nos ilumine com sabedoria.”

द्वादशनो महामन्त्र
dvādaśano mahāmantra (“grande mantra de doze sílabas”)

ॐ नमो भगवते वासुदेवाय
oṃ namo bhagavate vāsudevāya


Reverências ao Senhor Supremo, Senhor de todos os seres.

                                                 ॐ 


Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!

Todas as Glórias à Śrī Śrī Viṣṇu!

Nossas mais humildes, sinceras e profundas reverências, ao nosso querido amigo e professor de Sânscrito e cultura védica Yuri D. Wolf.
सङ्कटमोचन