segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Quem tem medo de Exu ?

Imagem representativade Orixa Exu
Oyo, Nigeria, 1920.
  Neste mês de novembro, com muita alegria, teremos em nosso templo de Boituva nossa gira de esquerda aberta, com ayahuasca, ritual na linha de estudos das tradições afro-brasileiras, este ritual está pautado na louvação e manutenção da energia de Exu e sua contra-parte feminina reverenciada como Pombogira dentro de nossa Casa, seja ela entendida como nosso corpo/mente/alma, ou nosso querido Templo Polimata de Boituva. 

   Muito podemos dizer de Exu, assim como muito são seus nomes, seja ele reverenciado como Orixá Exu, a ponte entre o mundo humano/físico/Ayé e o divino/espirtual/órùn (Oníbodè aquele que está na passagem dos dois mundos), o primeiro a ser reverenciado, aquele que é lembrado a todo instante, o primeiro a ser louvado ao acordar (Ajíbíkèé), o senhor e propagador da riqueza e prosperidade (Alájé) aquele que detém a magia, o primeiro a ser louvado e o último a ser saudado em todo ritual, afinal ele quem traz o axé (Aláse ou alaxé), esse Orixá que permite que ocorra um ritual místico (seja ele qual religião for, por isso muitos nomes foram dado a essa energia ao longo da história), é também a função de Exu reequilibrar o Axé e dar caminho (ou impor as dificuldades para que a pessoa se movimente, o que gera um pouco de mal entendido a respeito de sua atuação que é única e exclusiva para o bem Maior), por essas características também é associado ao movimento, a subida e descida, o bem e o mal, o caminho do meio.  

Culto a Exu no Candomblé,
 Brasil 1978

      Podemos constatar essa característica com um conto que diz: “Um dia no interior de nosso País dois vizinhos que dividiam uma cerca volta e meia se estranhavam e disputavam a liderança sobre um pouco de terra, um dia passou um homem entre eles que usava parte do chapéu vermelho e parte do chapéu preto, cada qual virado para um lado, nessa um dos vizinhos disse: “Quem diabos é esse do chapéu vermelho? - no que o outro retruca: “Mas que cabra! É chapéu preto! (...) Nessa começam uma longa discussão que gera um enorme conflito entre eles, uma verdadeira guerra se instaura e depois de muito sofrimento aquele pequeno pedaço de terra disputada se torna uma terra independente.” Nesses versos entendemos uma atuação de Exu, sendo o País nosso corpo, nosso ser, e os dois vizinhos, que se degladeiam pelo pouco pedaço de terra, que somos nós, podem ser lidos como nossa luz e sombras, assim ao final de uma longa batalha, nós, o pequeno pedaço de terra, torna-se independente, agregando os dois lados, Exu exerce a fricção necessária, neste caso, para que possamos evoluir, exu não é mal, mas pode ser visto como tal se olhado com uma mente limitada que não reconhece as causas e efeitos, essa energia é justa e sim é caridosa! 

    Há muitos outros Itans (contos que são passados de geração em geração de forma oral para que se perpetue a cultura Iorubá) que contam mais sobre Exu, colocando-o como um comilão que devora tudo pelo fato dele ser sempre o primeiro a receber toda e qualquer oferenda, tendo em vista que o culto afro-brasileiro e muitos outros de origem africana estão muito associados a oferenda de alimento, algo precioso neste contexto de população, as divindades, o ato de darmos nosso melhor as divindades, oferecermos não só nosso melhor bem material, mas principalmente nossas melhores virtudes e ações. 

  Detentor de toda a sabedoria humana, com ele não há enganação só verdade e bondade, é nosso caminho ao reino de Oxalá, a nossa paz interior, esta importantíssima divindade do panteão Iorubá foi um dos primeiros seres a serem criados por Olodumaré para se encarregar da Criação, reconhecemos, também, sobre as alcunhas de Elégbára, o todo poderoso, Bara, o maravilhoso ou incomensurável, Àwúre, boa sorte,coisas boas, Òdàrà, o espetacular, Láàróyè, aquele que deve ser honrado, admirado. O culto desta divindade se expandiu para além das terras Iorubás na África e hoje esta muito presente nas religiões afro-americanas como Santeria cubana, A Umbanda brasileira, o Vodu Haitiano, no Candomblé brasileiro, Em Trinida e Tobago, República Dominicana, Venezuela e tantas outras nações que receberam os povos africanos.



   Por fim, Exu é alegria, é a ponte que necessitamos, o começo do caminho para alcançar os reinos celestiais mais e mais altos, aquele que está no início e no fim de nossa jornada, cultuado muito além das terras tupiniquins e presente nos 4 cantos da criação Laaróyè Èsù!  


Egba rà bó ago mojuba rà (Tenho fé e peço licença para louva-lo em minha casa*)

Egba Kose (Tenho fé, amém.*)

Egba rà bó ago mojuba rà (Tenho fé e peço licença para louva-lo em minha casa*)

Lè gbálè èsù loná (Seu poder exu, limpa o caminho*)


* tradução aproximada não literal

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