Oxalá o maior dos Orixás
No candomblé cultua-se os Orixás Funfun, que são os Orixás brancos,
hierarquicamente são os mais elevados da cultura africana, pois estão
diretamente ligados a criação. Vamos falar especificamente do Pai de todos, o
grande Oxalá e suas duas manifestações
muito importantes: Oxaguian e Oxalufan.
No Sincretismo Oxalá está ligado a figura de Jesus Cristo
Oxalá
é o grande Orixá, o grande criador, seu poder não tem lugar para se manifestar,
todos os lugares são seus, ele está reinando acima de tudo e de todos, seu
poder não tem limites. Sua força de
atuação está no Ar e no tempo. Ele traz a Fé, o equilíbrio e a doutrina em
nossas vidas. As entidades que se apresentam como representantes de Oxalá, são
na maioria das vezes milenares, pois após o desencarne um espirito percorre
todas as linhas de forças (outros Orixás) para então poder atuar na linha
branca, na linha de Oxalá. Quando a entidade chega nesse grau, é porque já
conhece todos os pontos de forças da natureza e seus campos de atuação.
Oxalá
é um pai amoroso que ampara todos os seus filhos e não abandona nenhum deles.
Ele nos ensina a lição da generosidade,
a exercermos a solidariedade para
com os outros, sem preconceitos e sem julgamentos.
Lenda- Oxalá Cria a Terra
No começo, o mundo era todo pantanoso e
cheio d’água, um lugar inóspito, sem nenhuma serventia.
Acima dele havia o Céu, onde viviam
Olorum e todos os Orixás, que as vezes desciam para brincar nos pântanos
insalubres. Desciam por teias de aranhas penduradas no vazio. Ainda não havia
terra firme, nem o homem existia.
Um dia Olorum chamou à sua presença
Oxalá, o grande Orixá, disse-lhe que queria criar terra firme lá embaixo e
pediu-lhe que realizasse tal tarefa. Para a missão, deu-lhe uma concha marinha
com terra, uma pomba e uma galinha com pés de cinco dedos.
Oxalá desceu ao pântano e depositou a
terra da concha sobre a terra e pôs a pomba e a galinha e ambas começaram a
ciscar. Foram assim espalhando a terra que viera da concha até que terra firme
se formou por toda parte.
Oxalá voltou a Olorum e informou-lhe o
sucedido e Olorum enviou um camaleão para inspecionar a obra de Oxalá e ele não
pode andar sobre o solo que ainda não era firme. O camaleão voltou dizendo que
a terra era ampla, mas ainda não suficiente seca.
Numa segunda viagem o camaleão trouxe a
notícia de que a Terra era ampla e suficientemente sólida, podendo-se agora
viver em sua superfície.
O lugar mais tarde foi chamado de Ifé,
que quer dizer ampla morada.
Depois Olorum mandou Oxalá de volta à
Terra para plantar árvores e dar alimentos e riquezas ao homem. E veio a chuva
para regar as árvores. Foi assim que tudo começou. Foi ali em Ifé, durante uma
semana de quatro dias, que Oxalá criou o mundo e tudo o que existe nele.
Ele
tem duas manifestações que devemos considerar:
Oxalufan – é o Oxalá mais velho o Opaxorô que o
sustenta, um bastão de metal branco com a imagem de um pássaro, ele anda
curvado por causa do tempo, os anos lhe pesam no corpo, ele é vagaroso como um
idoso com dores. É Está diretamente ligado com a tranquilidade, paz, sabedoria
e paciência.
Oxaguian – é o um Orixá jovem, forte e guerreiro. Em suas mãos estão o escudo, espada e mão de pilão. Ele é o Orixá responsável por encorajar seus filhos nas lutas diárias para que eles possam superá-las. É dinâmico e está sempre em movimento, ele rege a inovação. Oxaguian significa o Orixá comedor de inhame.
Lenda Oxaguian inventa o pilão
Oxalá, rei de Ejigbô, vivia em guerra. Gostava de guerrear e comer,
apreciava uma mesa farta, comia caracóis, canjica, pombos brancos, mas gostava
mais de inhame amassado.
Ele jamais se sentava para comer se faltasse inhame. Seus jantares
estavam sempre atrasados, pois era muito demorado preparar o inhame. Oxalá
estava assim sempre faminto, sempre castigando as cozinheiras, sempre chegando
tarde para fazer a guerra. Então após consultar os babalaôs e fazer suas oferendas
a Esú, trouxe uma nova invenção para a humanidade, o pilão.
Com o pilão ficou mais fácil preparar o inhame e Oxalá pôde se fartar e
fazer todas as suas guerras. Tão famoso ficou o rei de Ejigbô por seu apetite
pelo inhame que todos agora o chamam de Oxaguian – “Orixá comedor de inhame
pilado”.
Refletindo
sobre as lendas desse grande Orixá, fica claro que ele sempre trabalha com as
energias de paz, humildade e serenidade, porém mostra que esses não são seus
únicos atributos.
Ele
é um mestre criador e com essa energia de criação, pode nos proporcionar mais
criatividade para resolução de nossos problemas, nos fazendo enxergar soluções
nas coisas mais simples de nossas vidas.
Mesmo
ele sendo o grande representante da Paz, quando se faz necessário Oxalá também
vai pra guerra, sob a sua manifestação de Oxaguian, diante da grande luz desse
Orixá a batalha é resolvida rapidamente e a paz volta a reinar.
Quando
estivermos em situações conflitantes em nossas vidas, podemos chamar a energia
de Oxalá que com certeza nos trará o instrumento necessário naquele momento,
que pode ser a paz, a criatividade ou a guerra, essa guerra no sentido bom, de
reestabelecimento da paz.
A
Fé é o atributo mais apreciado por
ele. A humildade é aquilo que mais
exige de nós. A bondade é a melhor
forma de nos apresentarmos diante dele. Para conhece-lo melhor devemos adquirir
seus quatro atributos fundamentais: Pureza,
Bondade, Humildade e Simplicidade.
v
Cores: Branco;
v Saudação: Epa Bàbá! (Oxalá/Oxalufan);
Exeuê, Babá! (Oxaguian)
v Símbolos:
Opaxorô
(cajado com pássaro na extremidade) e o Pilão.
v
Oferendas:
Canjica Branca, Uva verde, pêra, maçã verde, nozes, castanhas, amêndoas, Lírio
branco, copo de leite e flores brancas no geral. Inhame pilado (Oxaguian)
Epa
Bàba!
Exeuê,
Babá!
Minhas mais humildes reverências!
Juliane Camargo
(membra Templo Polimata Boituva)
Referências
As Sete Linhas da Umbanda: A religião
dos mistérios – Rubens Saraceni – São Paulo: Ed. Madras, 2017;
As Cartas dos Orixás – Celina
Fiovarani – São Paulo: Ed. Pensamento, 2009;
Mitologia dos Orixás – Reginaldo
Prandi – São Paulo: Ed. Companhia das letras, 2001.
Notas sobre o culto aos Orixás e
Voduns na Bahia de todos os santos, no Brasil e na antiga costa dos escravos,
na África – Pierre Verger – tradução: Carlos E.M Moura – São Paulo: Ed.
Universidade de São Paulo, 2012;
Umbanda Sagrada: Religião, Ciência,
Magia e Mistérios – Rubens Saraceni - São Paulo: Ed. Madras, 2017;