segunda-feira, 15 de julho de 2019

Nanã Buroquê a mais antiga Divindade das Águas!


Salubá Nanã


            Nanã no sincretismo é Nossa Senhora Santana, ela está ligada com a criação da terra e associada a figura de uma Orixá idosa ou avó.  A menção de avó vem por ela ser muito sábia e respeitada dentre os Orixás, ela é amorosa, acolhedora, sempre paciente com nossas imperfeições e orienta quando não sabemos qual caminho seguir.
Essa grande Orixá é a mais antiga divindade das águas, não das ondas turbulentas do mar, como Iemanjá, ou das águas calmas dos rios, domínio de Oxum, mas das Águas paradas dos lagos e lamacentas dos pântanos. Estas lembram as águas primordiais que foram encontradas no mundo para a criação da terra.
Nanã desenergiza as águas, apassivando-as, na linha das águas ela flui através da corrente universal, que é passiva, apassivadora, racionalizante, aquietadora e etc. Ela traz a energia da água e da terra, decanta os seres que estão sobrecarregados de negatividade.
As águas turbulentas dos rios em algum momento desembocam num lago, aquietando-se momentaneamente, se decantarão todas as impurezas incorporadas no seu fluir contínuo, permitindo que elas desçam até o fundo do lago, só assim, decantadas, as águas serão úteis.  Ela atua nos espíritos que serão conduzidos ao reencarne, mas ainda se encontram muito negativos, ela paralisa esse negativismo, prepara o espírito, para que a reencarnação do mesmo seja possível. Ela atua diretamente na evolução e nos carmas dos seres, ela que acompanha o reencarne e o desencarne, por isso também é conhecida como Senhora da vida (lama primordial) e da morte (dissolução do corpo físico na terra).
Os lagos possuem a força absorvente, Nanã atua dessa forma, absorvendo as energias densas mais profundas. Quando se adentra as energias de Nanã a pessoa recebe grandes transformações em seus modos de agir e ser, pois ela absorve as partes negativas do ser. O silêncio e a calma são primordiais, pois quem se aprofunda, entende que é melhor observar muito antes de se manifestar sobre qualquer situação.
Itan: Nanã fornece a lama para a modelagem do homem
Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o Orixá tentou vários caminhos.
Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu.
Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra ainda a tentativa foi pior.
Fez de fogo e o homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.
Foi então que Nanã Burucu veio em seu socorro.
Apontou para o fundo do lago com o seu Ibiri, seu cetro e arma, e de lá retirou uma porção de lama. Nanã deu a porção de lama a Oxalá, o barro do fundo da lagoa onde ela morava, a lama sob as águas, que é Nanã.
Oxalá criou o homem, o modelou de barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos Orixás povoou a terra.
Mas tem um dia que o homem morre e seu corpo tem que retornar a terra, voltar a natureza de Nanã Burucu. Nanã deu a matéria no começo, mas quer de volta no final tudo o que é seu.

Nanã nos deixa a mensagem de calmaria, de mergulharmos profundamente dentro no nosso ser para que as energias dela limpem e decante nossa parte negativa e nossos carmas. Ela trabalha com as energias mais profundas que existem dentro de nós, como uma grande sábia, ela mostra cada parte obscura que está sendo transmutada dentro de cada um para termos consciência daquilo e aprendermos um novo padrão. Ela é uma Orixá que proporciona curas profundas e grandes ensinamentos, devemos nos conectar com ela quando precisamos de tranquilidade e sabedoria para nos melhorarmos como pessoas.


·         Cores: Lilás e Branco
·         Saudação: Salubá Nanã (nos refugiamos em Nanã)
·         Simbolos: Ibiri (bastão de hastes de palmeira usado para afastar a morte)
·         Oferendas: Flores Lilás, alimentos que dão embaixo da terra, incensos de flores, velas brancas ou lilás.

Saluba Nanã!!
Minhas mais humildes reverências!
Juliane Camargo
Bibliografia:
As Cartas dos Orixás – Celina Fiovarani – São Paulo: Ed. Pensamento, 2009;
As Sete Linhas da Umbanda: A religião dos mistérios – Rubens Saraceni – São Paulo: Ed. Madras, 2017
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – São Paulo: Ed. Companhia das letras, 2001.
Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns na Bahia de todos os santos, no Brasil e na antiga costa dos escravos, na África – Pierre Verger – tradução: Carlos E.M Moura – São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 2012;
Umbanda Sagrada: Religião, Ciência, Magia e Mistérios – Rubens Saraceni - São Paulo: Ed. Madras, 2017;

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