Shawãdawa - o povo Arara |
Com uma população aproximada de 677 (2014) essa etnia
indígena situa-se na região do Alto Juruá no estado do Acre, dividindo-se entre
duas principais reservas indígenas, TI Arara – Igarapé Humaitá e Jaminawa-Arara
– Rio Bagé, a primeira homologada em fins dos anos 80 e a outra em meados dos
anos noventa tendo sido publicada no diário oficial da união apenas em 2001 e a
portaria declaratória do Ministro da Justiça para que seja de posse permanente
dos índios apenas em 2002.
São conhecidos por
Arara, nome dado pela frente de expansão do Alto Juruá no século XIX quando se
fez o contato de brancos com essa etnia, eles se auto denominam como Shawãdawa
podendo ser referidos também como “Shawanáwa”, “Xawanáua”, “Xawanáwa”,
“Chauã-nau”, “Ararapina”, “Ararawa”, “Araranás”, “Ararauás” e “Tachinauás”,
desde o contato até a homologação de suas terras foram um povo quase nômade
fugindo dos seringais e também das muitas guerras intertribais no início do
século XX, o que deu a eles uma alcunha de tribo guerreira, porém de lá pra cá
muitas coisas mudaram e os Arara se adaptaram “aos novos tempos”, alterando um
pouco sua organização, inclusive a organização social deixaram de viver em
grandes malocas para viverem em pequenas casas próximas cada núcleo familiar
Sua língua materna
quase foi perdida, mas em função do resgate histórico da revalorização da
TI - Arara - Igarapé Humaita |
Hoje em dia o
acesso as aldeias se dá quase que exclusivamente por via fluvial, mas trilhas
pela
floresta ligam uma comunidade a outra, algumas cidades Acreanas estão
próximas de seu território, Cruzeiro do sul, segunda maior cidade do estado e
Porto Valter teem maior relevância, Cruzeiro do Sul ainda hoje conta com muitos
Araras residentes e integrados aos sistemas municipais e Porto Valter, por ser
a mais próxima municipalidade, é onde a maioria dos araras comercializam seus
produtos, além de terem conflitos de interesse por regiões de caça, já que,
muitos caçadores de Porto Valter invadem as terras indígenas atrás de caça para
consumo e comercialização. Como muitas outras etnias os Shawãdawa comercializam
com as cidades produtos orgânicos, em especial a farinha de macaxeira, e
compram itens de primeira necessidade como açúcar, sal, pólvora, etc. ainda
hoje a caça, a coleta e o “roçado” são parte fundamental da sua cultura.Curadores e guardiões das medicinas Shawãdawa |
No universo das
“medicinas” tradicionalmente, desde tempos imemoriais, esse grupo faz uso da
“injeção do sapo” (Kambo) e o “simbu” (ou Timbu, Ayahuasca), praticam também o
“Mariri” uma forma de dança ritualística que serve para alegrar a população e
manter a unidade social, momento também em que os mais velhos, aqueles que
dominam a língua matriz podem passar seu ensinamento tradicional, como em
outros exemplos o “Campô” ou a vacina do sapo é indicada para aqueles com falta
de sorte na caça, preguiça, fraqueza, etc., o “Timbu” usado mais frequentemente
por “pajés” serve para aprender e curar, através do canto e da encantaria, já o
rapé está mais associado aos rituais de caça e força para o dia a dia, além dessas
medicinas eles praticam a defumação para limpeza energética, em tempos remotos,
antes do contato, o uso das medicinas era mais comum entre a população no
geral, hoje seu uso é mais restrito mas nota-se um crescente interesse por
parte dos mais jovens em retomar essas tradições “...isso é desde o começo do mundo. A vacina do sapo é bom para quem
está com cansaço na perna, para a pessoa engordar, para a pessoa matar caça, é
muito bom. Para dor de cabeça é muito bom. A pessoa que dorme muito, toma
aquela vacina do sapo, passa. Eu tomei muita vacina de sapo(João Martins,
10/03/2000, Cruzeiro do Sul)”
músicos shawãdawa ao pé da Samaúma |
Os indivíduos desse
grupo se reconhecem como Araras (os animais alados) comparando-os a si no
quesito de viverem em comunidades de fazerem a “zoada” (algazarra) e serem
descendentes desse animal, antigamente dizia-se não ter diferença entre homem e
bicho e cada bicho teve uma descendência ligada a cada uma das etnias
indígenas, o mito de criação Shawãdawa varia de contador para contador mas De
maneira bastante resumida, os principais elementos desse mito são os que
seguem: existia uma maloca com diversas crianças, e próximo ao roçado um pé de
Sumaúma, onde morava um gavião. Quase todos os dias esse gavião saía para caçar
e trazia alimentos para o seu filhote. Quando a caça começou a acabar ele
passou a pegar as crianças indígenas. Comeu todas as crianças menos uma.
Nesse momento um
“caboclo” da aldeia resolveu matar o gavião, antes dele “acabar” com os índios.
Quando ele conseguiu matar o gavião, após muita dificuldade, tendo construído
uma escada para chegar ao ninho, colocou penas dentro de um cesto. Em uma noite
esse cesto começou a fazer um barulho, que o “caboclo” pensou serem baratas
comendo as penas. No dia seguinte, pela manhã, ele abriu o cesto e não tinha
baratas, só as penas. Após várias noites escutando o barulho, e no dia seguinte
pela manhã conferindo o cesto e não encontrando o que fazia o barulho, um dia
ao repetir a ação do cesto saíram cantando de felicidade todas as tribos Pano,
cada uma dizendo o seu nome, Shawãdawa, Yawanawa, Kaxinawa, Xaranawa, Duwanawa,
Poyanawa e outras. Esse mito é corroborado por outras etnias de maneira bem
similar dando uma origem comum a todos os povos de língua pano e trazendo uma
certa unidade parental imemorial.
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