quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Série: Povos Indígenas - Nukini


 
Nukini - o povo da onça pintada
  Nas palavras de Utista Nukini ou Paulo César de Oliveira Silva, uma das lideranças do povo Nukini De acordo com os nossos antepassados, ‘Nukini’, quer dizer ‘onça pintada’. Nós somos um povo de origem da onça. Por isso nós temos respeito por ela e sempre carregamos alguma coisa da onça: um dente no cordão, pulseira ou tiara da pele dela. Hoje, nós vivemos na Terra Indígena Nukini, na fronteira do Acre com o Peru”
   Este povo indígena de matriz linguística Pano autodenominado Nukini (também conhecido como InucuiniNucuinyNukuiniNucuiniInocú-inins e Remo) habita e historicamente sempre habitou a região próxima ao Parque Nacional da Serra do Divisor, ao rio Moa e alguns outros afluentes do rio Juruá seu território fica na fronteira entre o Peru e o estado brasileiro do Acre, atualmente vivem em terra indígena demarcada (TI NUKINI), sendo o município mais próximo o de Mâncio Lima no Acre, abrangendo um território total de 27.264 hectares, sua demarcação começou na década de 1970 porém só foi demarcada em 1985 e homologada em 1991, desse tempo do começo do processo de demarcação aos dias de hoje a população total pulou de cerca de 150 pessoas para mais de 613, gerando uma necessidade de expansão da terra indígena, processo que ainda está em andamento sem prazo para se encerrar.
 
Vista do alto da Serra do Divisor, com rio Moa ao fundo
 (parte do TI Nukini)
A história do contato deste povo, como da maioria dos povos indígenas do Acre foi por causa dos seringueiros que a partir de 1827 que passaram a invadir os rios e seus afluentes atrás das seringueiras para a exportação de borracha, nesse período e posterior muitos povos foram dizimados e escravizados dado aos interesses econômicos daqueles que exploravam esse recurso, em função disso até hoje muitas etnias buscam a reconstrução da sua cultura e o crescimento de suas populações quase extintas. Hoje em dia o povo Nukini passou a reeducar suas crianças para falarem a língua tradicional e o português, em função da colonização desse povo quase se perdeu a língua matriz.
  As práticas medicinais desse povo envolve o uso tradicional de ervas, cascas e raízes como exemplificação O pau-amargoso, árvore de grande porte, é usada para picadas de insetos. A casca de jatobá, como a de copaíba e de arranha-gato, serve para fazer chá para dores em geral, tosse e inflações nos nervos. O chá da casca de quina-quina serve para malária. A seiva do talo da jarina e do olho do açaí para picada de insetos. O cipó-guaribinha – seiva espremida – é usado para gripe. A chichoá – casca curtida na pinga – é um tônico-geral. O malvarisco é utilizado para gripe, tosse e como calmante. O agrião para gripe, tosse, dor-de-dente, sendo ainda um anti-inflamatório.
Feitio de rapé na aldeia Nukini
  O contato com outras culturas também trouxe a ressignificação de algumas medicinas de uso tradicional como a ayahuasca “O povo Nukini, antigamente, tomava ayahuasca para descobrir o que tinha acontecido. A história conta que o povo Nukini era um povo muito guerreiro, matava e morria muito. Então ele tomava o chá e se concentrava na pessoa que tinha morrido e a ayahuasca mostrava quem a tinha matado. Daí ele ia lá e se vingava. Ou, então, quando um roubava a mulher do outro, ele se concentrava e descobria através do chá quem a roubou. Quando eles percebiam que os outros povos estavam sabendo da verdade e iriam se vingar e prejudica-los, daí eles furavam o olho do inimigo, porque quando eles tomavam o chá, não conseguiam se concentrar com o olho furado e eram incapazes de ver a verdade. Hoje não se usa mais assim. A gente usa para a consciência, o chá tem esse papel de resgate da cultura e do ser.- Utista Nukini “
  Sobre o rapé o mesmo Utista completa “O rapé é uma coisa nova. O povo hoje está fazendo misturas que antigamente não faziam. A gente usava um rapé diferente, com ervas, que se fumava. Se tinha um bando de queixada por perto, o meu avô fumava no cachimbo esse tabaco com ervas e a fumaça dizia para onde as queixadas tinham ido. Os novos estão se entrosando com este tipo de sabedoria, mas o povo Nukini ainda tem muito o que descobrir. O povo Nukini não é bem tradicional, perdeu uma base de 60 por cento da sua cultura, mas ainda tem muita coisa guardada, pode-se dizer que é uma etnia em reconstrução.”
   Muitas etnias passam por esse processo de reconstrução de sua própria identidade, resinificando sua ação no mundo e preservando seu habitat, trocando experiência com o mundo de fora e informatizando suas comunidades valorizando o tradicional em paralelo com as técnicas modernas. Valorizar e divulgar essas culturas milenares é o nosso dever e nossa alegria .Este texto foi elaborado com base em duas fontes oficiais que contam a história e a realidade desse povo, indico aqui para aqueles que quiserem se aprofundar um pouco mais https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Nukini e http://cpiacre.org.br/conteudo/2017/01/20/nukini/

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