quinta-feira, 25 de abril de 2019

Oxóssi o caçador de uma flecha só

Oxóssi

Oxóssi é o Orixá das matas, o grande caçador, a juventude, no sincretismo está associado a São Sebastião e dia 20 de janeiro ocorrem festas em seu louvor.
Orixá da fartura e do sustento (provê os alimentos) ele vive nas florestas e está relacionado com as árvores e os animais, protege contra os ataques das feras e também tem forte ligação com curas espirituais, pois utiliza a energia etérea emanada das ervas para realização de curas.
Oxóssi também está associado ao conhecimento, aquele que busca ou “caça” o conhecimento externo e interno. Ele traz a mudança, o aprendizado, o saber se comunicar e ouvir.

Na África sua importância era dividida em 4 fatores:
1.         Material – protegendo os caçadores, tornando suas expedições eficazes e abundantes;
2.       Médica – por passar muito tempo na floresta e com o Orixá Ossain, divindade das folhas terapêuticas, passou a utilizar os saberes de cura;
3.     Social – durantes as expedições de caça, podia-se descobrir locais favoráveis para instalação de novas aldeias.
4.     Administrativa/Policial – antigamente, somente os caçadores (Odé) possuíam armas nos vilarejos, servindo também como guardas das aldeias.

Ofá símbolo do caçador


O Ofá é o Arco e Flecha – Arquétipo do Poder Vital, força, flexibilidade, intenção, dinamismo e decisão.

Antigamente os caçadores precisavam lutar corpo a corpo com suas presas, o que era uma situação extremamente perigosa para eles, em alguns casos eles atiravam dardos ou lanças, mas este método ainda impossibitava a caçada de aves.

Então foi criado o Arco e Flecha, que pode-se considerar uma criação extremamente inteligente, pois permitia que os caçadores atingissem suas presas de longe e em silêncio, evitando o contato corpo a corpo e garantindo sua segurança. Ele passou a proteger o homem, melhorando a sobrevivência de todos.
           
Para utilizar o Arco e flecha, além de uma ótima pontaria é necessário em estado psicológico adequado, ou seja, o caçador deveria estar calmo e em equilíbrio para ter uma caçada bem sucedida e voltar em segurança para sua casa.

O Ofá (arco e flecha) é o símbolo de Oxóssi e nos deixa a mensagem de que para atingirmos nossas metas é necessário a busca pelo equilíbrio interior. Para atingirmos nossos alvos, requer concentração, inteligência e intuição.


Itan: Oxóssi mata o pássaro das feiticeiras

“Todos os anos, para comemorar as colheitas dos inhames, o rei de Ifé oferecia aos súditos uma grande festa.

Naquele ano, a cerimônia transcorria normalmente, quando um pássaro de grandes asas pousou no telhado do palácio. O pássaro era monstruoso e aterrador, o povo assustado, perguntava sobre sua origem.

A ave foi enviada pelas feiticeiras, as Iá Mi Oxorongá, nossas mães feiticeiras, ofendidas por não terem sido convidadas.

O pássaro ameaçava o desenrolar das comemorações, o povo corria aterrorizado.
E o rei chamou os melhores caçadores do reino para abater a grande ave.
De Idê, veio Oxotogum com suas vinte flechas
De Morê, veio Oxotogi com suas quarenta flechas
De Ilarê, veio Oxotadotá com suas cinquenta flechas

Prometeram ao rei acabar com o perverso bicho, ou perderiam suas próprias vidas.
Nada conseguiram, os três Odés gastaram suas flechas e fracassaram, foram presos por ordem do rei.

Finalmente, de Irém, veio Oxotocanxoxô, o caçador de uma flecha só, se fracassasse, seria executado junto com os que o antecederam.
A mãe do caçador, temendo a vida do filho, consultou um babalaô, que recomendou que ela fizesse um ebó que agradasse as feiticeiras e ela seguiu a recomendação e fez.

Nesse momento, Oxotocanxoxô tomou seu Ofá, apontou atentamente e disparou sua única flecha, matando a terrível ave. As Iá Mi Oxorongá estavam apaziguadas.

O caçador recebeu honrarias e metade das riquezas do reino, os outros caçadores foram libertos e todos festejaram. Todos cantaram louvou a Oxotocanxoxô, o caçador Oxô ficou muito popular, cantavam em sua honra, chamando-o de Oxóssi, que na língua do lugar quer dizer “O Caçador de Oxô é popular”. Desde então Oxóssi é seu nome”

Vocabulário:
Ifé – nome do reino
Odé – Caçador
Ebó – Oferenda
Ofá – Arco e Flecha


Analisando esta lenda, podemos chegar em reflexões interessantes em relação a Oxóssi. Esse Orixá pertence a floresta, a floresta representa nossa mente consciente e inconsciente, nossa vida.

O pássaro representa o Medo, o medo de viver, o medo de se movimentar, o medo de se conhecer, o medo de se curar. Mostra que antes de Oxóssi, três caçadores tentaram enfrentar o pássaro, todos eles com muitas flechas e nenhum conseguiu realizar tal tarefa, por quê?

Fica claro que em nossas vidas, não precisamos de milhares de flechas para enfrentar nossos problemas, nós precisamos de uma única flecha que se chama foco, quando temos foco, não importa a grandeza dos nossos medos e das nossas fraquezas, pois estamos focados em destruir aquele mal que vive dentro de nós. Mostra também que a mãe dele, preocupada, foi buscar uma orientação espiritual e seguiu as coordenadas dada, isso representa a .

Concluindo, não importa o tamanho dos desafios (pássaro) que assombram nossa mente (floresta), quando temos Fé e Foco (única flecha) eles são resolvidos com inteligência, força, dinamismo e responsabilidade.

v  Saudação: Okê aro;(Salve o grande caçador)
v  Cores: Verde
v  Símbolos: Ofá (arco e a flecha de ferro fundido);
v  Oferendas: Velas, Frutas, charutos, flores e ervas.

Okê Aro!
Minhas mais humildes reverências!
Juliane Camargo 




Bibliografia
As Sete Linhas da Umbanda: A religião dos mistérios – Rubens Saraceni – São Paulo: Ed. Madras, 2017;
As Cartas dos Orixás – Celina Fiovarani – São Paulo: Ed. Pensamento, 2009;
Marketing e Arquétipos: Simbolos, poder e persuasão – Hélio Couto, Ed: Hélio Couto LTDA – SP, 2004
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – São Paulo: Ed. Companhia das letras, 2001.
Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns na Bahia de todos os santos, no Brasil e na antiga costa dos escravos, na África – Pierre Verger – tradução: Carlos E.M Moura – São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 2012;
Umbanda Sagrada: Religião, Ciência, Magia e Mistérios – Rubens Saraceni - São Paulo: Ed. Madras, 2017;